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segunda-feira, 22 de abril de 2013

Texto para as turmas do 9º ano A e B / Ensino de Arte


CULTURA MARAJOARA - HISTÓRIA E ICONOGRAFIA
Denise Pahl Schaan

            A cultura Marajoara formou-se a partir de pequenos assentamentos de grupos horticultores estabelecidos no centro da Ilha de Marajó, a oeste do Lago Arari, expandindo-se cultural e demograficamente para o norte e leste da Ilha. O domínio dessa cultura, que teve início a partir do século V d.C., não se deu pela imposição demográfica de uma única etnia, mas provavelmente pela articulação entre as chefias de diversos aldeamentos já existentes em função de estratégias e objetivos políticos e econômicos comuns. Esses povos utilizavam possivelmente uma agricultura intensiva, complementada pela caça, pesca e coleta de frutos e plantas silvestres. A cultura Marajoara importava de regiões distantes implementos de basalto e diorite para trabalhar a terra e a madeira, adornos de pedra como a nefrite (as famosas pedras verdes) e possivelmente outros produtos que pereceram.
            Assim como no restante da Bacia Amazônica, nesse período de mil anos que precedeu a chegada dos europeus desenvolveu-se um intenso comércio inter-regional, que permitiu o desenvolvimento econômico e o crescimento demográfico de pequenas aldeias e conferiu maior poder político às lideranças envolvidas com as redes de troca.
            Uma grande área circular de 20.000 km2, na região dos campos, tendo como centro o Lago Arari, foi ocupada por essa cultura, que é identificada arqueologicamente pela construção de monumentais aterros e pela confecção de uma elaborada cerâmica cerimonial. Festas e rituais funerários mostram a estreita integração regional que havia entre os diversos grupos sociais dentro da Ilha e a necessidade de articulação dessa unidade por meio da celebração ritual.     Quando morriam, os chefes e membros das famílias de prestígio tinham seus ossos descarnificados, desarticulados, pintados e dispostos em urnas funerárias ricamente decoradas, cercadas de oferendas e objetos de uso pessoal. Em alguns períodos utilizaram também a cremação. Essas cerimônias eram realizadas nos aterros principais, onde as urnas, com tampas e outros objetos eram enterradas cuidadosamente.
            Próximos a esses aterros, numerosos e menores outros aterros eram utilizados para habitação e para as atividades domésticas. Além de prevenirem contra as inundações, essas plataformas artificiais tinham também função defensiva. Especialistas da cultura Marajoara produziram uma infinidade de utensílios cerâmicos decorados mostrando alto domínio da técnica de tratamento e modelagem do barro, do trabalho de entalhe, do manejo de tintas e uma habilidade especial na feitura de desenhos étnicos e mitológicos em
diversas técnicas.
            Pratos rasos e com pedestais, tigelas, vasos, alguidares, torradores de mandioca, bilhas, banquinhos para os chefes e estatuetas foram decorados com as técnicas de incisão, excisão, pintura e modelagem de figuras humanas e animais. As estatuetas antropomorfas, chocalhos, e uma infinidade de formas exóticas, assim como a fabricação de utensílios dedicados à ingestão de drogas alucinógenas mostram a diversidade de objetos envolvidos nas cerimônias e sugerem que um papel importante era desempenhado por pajés nos cultos rituais.
            Na cerâmica encontram-se representados animais da fauna Amazônica como a jararaca, o jacaré, o escorpião, a tartaruga, o urubu-rei e outras aves, a anta, o macaco da noite e a onça, entre outros. É comum encontrarmos uma representação híbrida de homem e animal, o que possivelmente representa uma entidade mitológica, pertencente ao mundo sobrenatural. Em urnas
antropomorfas geralmente está representada a mulher, associada com representações de animais como escorpiões, aves e serpentes. A mulher também está representada em estatuetas falomorfas, que possuem o corpo decorado com grafismos que representam algumas vezes serpentes.
            Nesses grafismos, que aparecem em todos os tipos de objetos cerâmicos, podemos identificar a existência de estilizações de partes de animais e faces humanas. Esses desenhos ocupam quase toda a superfície das vasilhas e pode-se perceber que há uma combinação lógica entre o desenho, a técnica utilizada para a decoração da superfície e o formato básico da peça. Além da representação de figuras mitológicas e de idéias que conformam uma maneira culturalmente determinada de perceber o mundo exterior, é possível que na cerâmica estejam representadas também símbolos relativos à inserção social do usuário ou proprietário do objeto - como linhagens ou posições sociais.
            Além da cerâmica, os povos Marajoaras fabricavam e usavam tecidos, plumária, adornos auriculares e labiais e provavelmente a pintura corporal. Uma marca distintiva de seu vestuário são as tangas de cerâmica, modeladas de acordo com o corpo da usuária, algumas simples, somente com engobo vermelho e outras finamente decoradas para as ocasiões especiais.
            Os desenhos nas tangas, por exemplo, podem ser emblemas clânicos que denotavam posições de prestígio social. O desenvolvimento dessa sociedade através de pelo menos mil anos de sua história, ocupando uma região tão extensa e alcançando uma população que pode ter chegado a 100 mil habitantes, nos indica um nível de complexidade sócio-cultural antes desconhecido para a Ilha.
            Pensamos que o desaparecimento da sociedade Marajoara não se deu de forma repentina, mas foi o resultado de um longo processo onde às rivalidades com os Aruãs ao norte se somaram as novas demandas ocasionadas pela presença dos europeus na Foz do Rio Amazonas. A necessidade de reorganização econômica, social e política das comunidades Marajoaras, aliadas à necessidade de defesa do território levaram ao seu desmembramento político e à perda progressiva de sua identidade cultural.

Texto publicado no livro Arte da Terra – Resgate da Cultura Material e Iconográfica do Pará. Arte Rupestre e Cerâmica na Amazônia pp. 22-33. Edição SEBRAE e Museu Paraense Emílio Goeldi.



ENSINO DE ARTE
PROFESSOR: PAULO CEZAR SIMÃO

Feira da Cultura 2010